O que se aprende? Como se aprende?

Todos diferentes, todos iguais.

Nas últimas décadas a investigação em Psicologia Educacional tem descrito o processo de aprendizagem de forma cada vez mais completa e complexa. Sabemos hoje que não há, não pode haver explicações únicas e simples. Cada aluno é uma pessoa, e todas as pessoas são ricas em singularidades, todas estão em desenvolvimento, todas interpretam e constroem realidades. Além de estarmos em permanente desenvolvimento (do nascimento até à morte) sabemos hoje que todas as pessoas têm uma imensa capacidade de aprendizagem. Existem diferenças individuais, factores pessoais e sociais que facilitam ou dificultam a aprendizagem, mas todos aprendemos todos os dias, muitas e muitas coisas. Aprendemos até coisas que não queríamos aprender, que não nos fazem falta ou que até nos prejudicam. Aprendemos a música que não nos sai do ouvido, aprendemos a correr para todo o lado, a gostar de “snacks” e de gulodices. Aprendemos poemas e palavrões, anedotas e metáforas. Aprendemos a ter medo, a fugir, a acreditar ou a sonhar. Aprendemos a desistir ou a persistir, aprendemos (ou não) a acreditar e a gostar de nós próprios. Aprende-se tudo e de tudo. A todas as horas, em todas as situações. Aprende-se por experiência própria, por tentativa e erro, por observação, por intuição, por comparação, por dedução... Aprende-se por acaso e sem saber como, ou porque muito nos esforçamos e queremos entender. Às vezes aprendemos sozinhos, sem ajuda, mas quase sempre os outros influenciam a nossa aprendizagem. Porque os imitamos (foi assim que aprendemos a andar, a comer, a falar, até a sentir e a pensar). Porque nos mandam aprender, porque nos ajudam a aprender. Porque nos dizem, mostram e explicam.

Aprendemos na escola e fora da escola, todos os dias, em qualquer lugar.

Os outros (ou a própria vida) colocam-nos problemas, dificuldades, dúvidas. Deixam-nos curiosos, ansiosos, com vontade de saber (ou de esquecer...). E às vezes, surgem questões em que nunca tínhamos pensado ou problemas novos que nos deixam intrigados. Às vezes somos forçados a repensar coisas que julgávamos entender perfeitamente, porque o que parecia muito claro, de repente, parece não fazer sentido.

Diferentes níveis de aprendizagem, diferentes tipos de dificuldade.

Há coisas que se podem aprender de cor, por mera imitação ou repetição, de uma forma simples e superficial. São conhecimentos específicos, soluções que permitem resolver sempre os mesmos problemas: “faz-se assim, diz-se assim!” Coisas que às vezes nos permitem obter boas notas ou ganhar concursos televisivos. Muito do que se aprende na escola é desta natureza: aprendizagem de rotinas, de nomes e regras, resolução repetida de problemas similares. Às vezes, pela quantidade de informação, por falta de bases ou de métodos de estudo os alunos sentem dificuldades: “a matéria é muita... o professor não ensinou... eu estava distraído... não sei por onde começar”.

Mas há outro tipo de aprendizagens: as que não se esquecem no dia a seguir ao teste. Questões, problemas, situações que conduzem a uma aprendizagem mais profunda, mais duradoura e abrangente.

Há coisas que nos fazem pensar (ou repensar), que nos levam semanas de esforço até encontrarmos um sentido… outras que descobrimos de imediato, por intuição ou num rasgo de génio (“faz-se luz”).

Há coisas que nos fazem dizer: “tem graça, nunca tinha pensado nisto” ou “não, não consigo entender, não faz sentido…”. Coisas que nos confundem, que nos colocam num estado de tensão, curiosidade, vontade de saber… Nestes casos, quem tenta aprender, sente dificuldades. Estar em conflito cognitivo, é estar perante um problema que não (ainda) não se consegue solucionar, porque alguma coisa “não encaixa”, e tudo parece confuso, quase paradoxal. Para resolver o conflito, quem aprende tem que pôr em causa algumas das coisas que julgava já ter entendido, tem que “desfazer” o que julgava saber para estruturar de novo, encontrar uma nova forma de ver as coisas, de as conceber. Quando assim é, aprender significa chegar a uma compreensão mais profunda, mais complexa ou mais abrangente. O pensamento estrutura o que se vai conhecendo, e nesse esforço, constroem-se novas estruturas de pensamento. Da dificuldade nasce a luz…

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